Marx, seu principal elaborador, estudou as origens e o desenvolvimento da luta de classes, examinou a fundo as contradições do capitalismo de seu tempo (meados do século XIX), apontando para a edificação de uma sociedade mais justa, sem exploração do homem pelo homem. Engels - que ajudou muito nessa elaboração, chegando a escrever com ele várias obras - afirmava que "o socialismo, desde que se tornou uma ciência, precisa ser tratado como tal, isto é, precisa ser estudado".
Lênin, grande líder revolucionário do início deste século XX, aprofundou aspectos dessa teoria, especialmente sobre os fundamentos da ação revolucionária. Ao propagar os ensinamentos dos grandes mestres, enfatizava que a luta teórica - tal como as lutas econômica e política - é uma das manifestações da luta de classes. Lembrava, então, que a consciência socialista revolucionária não deriva simplesmente dos embates da luta espontânea da classe operária.
Ou seja, para compreender os interesses vitais do proletariado e de sua missão
histórica, nós socialistas precisamos unir a luta concreta ao exame profundo dos fenômenos histórico-sociais. Precisamos nos forjar como intelectuais revolucionários de nossa classe e isso exige o domínio da teoria revolucionária.
Estudar o marxismo-leninismo é, portanto, uma necessidade vital para os socialistas. Mas não nos interessa um estudo simplesmente para "demonstrar conhecimentos", estudo abstrato. Também não se trata de entender a teoria como fórmula acabada, solução para todos os problemas ou modelo para o empreendimento da luta dos trabalhadores e sua organização. É indispensável encarar o marxismo-leninismo como sistema teórico vivo, dinâmico, que exige constante elaboração.
Estudo individual, reflexão coletiva
Sempre que se enfatiza a importância do estudo, fala-se da necessidade de "fazer cursos". Estes, sem dúvida, ajudam a "organizar as idéias", traçar as linhas gerais da teoria e seus temas básicos. Assim como palestras, seminários e outras situações de debates contribuem para nossa formação teórica, ideológica e política.
No entanto, nada substitui o estudo individual. Ele é indispensável à preparação e aprofundamento dos temas tratados, contribuindo para o aproveitamento dos cursos e participação em debates.
A formação dos socialitas se sustenta nesses três pilares: estudo individual, vida orgânica regular e cursos (ou atividades sistemáticas de formação).
Enfrentar as dificuldades do estudo
Estudar não é fácil. Quando não se tem o hábito de estudo, fica-se impressionado ao pegar um livro. Pensa-se que só pode ser lido por quem freqüentou escola durante muitos anos.
No início surgem muitas dúvidas e dificuldades, mas com o prosseguimento do estudo começa-se a compreender melhor os textos e a assimilá-los. Acima de tudo é necessário ter vontade de aprender e não desistir diante dos primeiros obstáculos.
Estudo individual planejado, permanente e metódico
Que tal assumir um compromisso com o estudo? E se experimentarmos encará-lo como uma tarefa a ser cumprida com o mesmo rigor que todas as outras? Para isto, nada melhor que estabelecer (e seguir) um plano de estudo individual. Convém definir um horário fixo para o estudo. Depois, exercitar-se na concentração, disciplina e organização: evitando fatores de dispersão (quem lhe tiram a atenção); fazendo intervalos; providenciando antecipadamente todo o material necessário; realizando anotações e fichamentos. Um bom começo será definir, realisticamente, um mínimo de horas semanais a dedicar ao estudo.
Como estudar
Estudar é procurar compreender o que se leu, refletir sobre os assuntos abordados em um texto, reter o fundamental, estabelecer relações com outras idéias lidas e ouvidas.
Quando se pega um texto pela primeira vez, é importante começar por uma leitura atenta, para se ter a visão de conjunto. Geralmente, essa leitura leva à necessidade de consultar dicionários, anotações de aulas/palestras e outras obras importantes para o entendimento das idéias centrais.
Depois, volta-se ao texto, várias vezes (conforme necessário), para apreender sua mensagem, localizar idéias, fatos, informações e exemplos. Durante a leitura, é conveniente assinalar as passagens mais importantes e fazer anotações. Registrar palavras ou fatos desconhecidos, dúvidas, idéias principais, argumentos, fatos e exemplos permite voltar e refletir com maior facilidade sobre pontos importantes.
A partir das anotações, é possível fazer um resumo, isto é, um texto menor, com as próprias palavras, trazendo as principais idéias do que foi estudado. O resumo de cada texto lido ajuda a fixação e o esclarecimento das idéias. Apresentando os pontos essenciais do pensamento do autor e o registro de opiniões pessoais do leitor, o resumo possibilita o desenvolvimento da capacidade crítica e do raciocínio independente.
Persistir na reflexão e no debate
As dificuldades iniciais irão diminuir aos poucos, com paciência e dedicação. Mas, é melhor não fechar-se em si mesmo! Levar as dúvidas e dificuldades individuais para discussão no coletivo. Os camaradas mais experientes ajudarão os principiantes. O plano individual terá mais resultado se conjugado a um plano coletivo, do organismo, por exemplo, ou de grupos de estudo.
Bom, vamos lá, resumidamente, como estudar?
- Ler integralmente e com visão de conjunto
- Identificar o tema
- Destacar idéias principais.
- Localizar argumentos, justificações, fatos, exemplos ligados às idéias principais.
- Anotar dúvidas, impressões, associações, etc., bem como passagens que chamaram atenção.
- Formular questões cujas respostas se encontrem no texto e/ou questões por ele suscitadas.
- Resumir - construir um texto curto, que contenha as idéias mais importantes
- Esquematizar - elaborar um quadro ou sinopse que permita visualizar a estrutura, o planejamento do texto, expondo suas idéias centrais.
- Interpretar - comparar/associar as idéias do autor (com as pessoais; com outras do mesmo autor; com as de outros autores).
- Criticar - formar opiniões próprias, fazer apreciações e juízo pessoal do texto.
Lembretes para cumprimento do plano de estudos
- Providenciar cópias dos textos.
- Predeterminar um horário.
- Garantir algumas condições básicas para o estudo:
- concentração.
- evitar ou isolar os elementos de dispersão (que tirem sua atenção dos estudos).
- disciplina e organização, providenciar todo o material necessário
- não deixar de ler índices, prefácios, tabelas, notas de rodapé, etc... - Dedicar ao estudo a mesma atenção dispensada a outras tarefas.
- Interpretar os textos e extrair deles ensinamentos para a prática revolucionária.
- Discutir no coletivo, as dúvidas e as interpretações surgidas no estudo.
Nereide Saviani é doutora em História e Filosofia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e professora do mestrado em Educação da Universidade Católica de Santos (UniSantos).
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